Test-Ride: Yamaha NMAX
A gozar o primeiro dia das férias grandes, o mais natural seria ficar no vale dos lençóis a gozar a despreocupação e mandar às urtigas a habitual “obrigação” de ter de me levantar bem cedo…
Mas como sou um bocado de ideias fixas e as mesmas tiveram a força de me arrancar da cama com a genica de quem tinha acabado de tomar um par de cafés, acabei por ajudar a minha mulher a preparar a nossa filhota para a ida para o colégio, tomei o pequeno-almoço tranquilamente e, após a saída de ambas…desço até à garagem e equipo-me para ir dar uma boa volta em 2 rodas.
Mas desta vez e à semelhança de tantas outras, a volta a dar não seria a bordo da minha própria montada, mas sim um test-ride que gostaria de fazer a um modelo que já tinha visto ao vivo umas semanas antes e que sabia de antemão estar disponível para teste….e o que eu gosto de testes!!
Dirijo-me à Motévora determinado a fazer um teste de longa duração a este novo modelo e logo quase à entrada deparo-me com a
N-Max…
Seria esta a 4ª ou 5ª vez que dava entrada neste concessionário da Yamaha e fui directo ao local onde sabia encontrar-se a recepção e onde por sinal fui muito bem recebido pelo vendedor Rui Moedas…precisamente o mesmo com quem tinha falado na Feira de São João acerca deste modelo.
O que é certo é que, reconhecendo-me ou não, foi sempre bastante prestável desde o primeiro momento, apesar de eu ter passado a ideia (propositadamente) de ser um quase completo desconhecedor de scooters. Fazia umas perguntas de que já sabia a resposta, questionava se tinha ABS, qual a cilindrada…enfim, fiz um bocado de “papel”.
Passados breves minutos estava com uma N-Max de test-ride (não a que estava à entrada) que apresentava no odómetro perto de 1.000Kms realizados. Ufff…felizmente apanho uma unidade mais solta, pois nos test-rides que vou fazendo apanho sempre as máquinas numa fase muito embrionária de rodagem.
Com a chave no canhão de ignição e já em cima da N-Max, a primeira coisa que fiz foi um reset ao parcial e que como verão mais adiante, foi feito novamente a meio do teste…
A posição de condução, ali parado em frente ao concessionário e a preparar-me para arrancar, achei-a bastante natural e a minha estatura de 1,81m permite-me assentar quase por completo os calcanhares no chão…fica a sobrar 1 ou 2cm para que fique com os pés totalmente assentes.
Os braços ficam flectidos correctamente (nem todos esticados, nem com um ângulo demasiado pronunciado partindo do cotovelo), o guiador está a uma altura que considero correcta para um veículo de cariz citadino, as minhas costas encontravam-se numa posição que não me causava quaisquer problemas…e assim encontrei num ápice a posição certa.
Os espelhos são de regulação fácil, mas aquele design esguio - bonito na minha opinião - perde um pouco de informação relevante do que se passa atrás, pois mais de metade do que era reflectido pelos espelhos era o casaco que eu usava, mais propriamente na zona dos braços…e se tentasse regular mais para o exterior, perdia a informação necessária do que se passava atrás de mim.
Aponto a máquina ao centro da cidade com o claro objectivo de começar a sentir o trabalhar das suspensões, a firmeza e o efeito global transmitido na condução….e gostei!
A Yamaha parece ter acertado muito bem na configuração de carga dada às suspensões do modelo e os meus quase 80Kg foram sempre bem amparados por um conjunto mola/amortecedor que conseguia perfeitamente absorver as irregularidades, com um à-vontade mais do que suficiente para o segmento em que se insere, mesmo passando por alguns locais de calçada secular desta cidade histórica.
Aliás, sem querer parecer que estou bajular em excesso este pormenor do conforto, ainda assim tenho que dizer que dificilmente se lhe poderia pedir melhor e creio mesmo que a concorrência neste aspecto fica um pouco atrás.
O peso de apenas 127Kg em ordem de marcha deste modelo, tornam-na suficientemente fácil de conduzir e manobrar, sendo na minha franca opinião muito pouco intimidatória para qualquer pessoa que entre pela 1ª vez no mundo das 2 rodas e precise de um veículo com características que facilitem a sua condução.
O pára-arranca dentro da cidade não foi excessivo, até porque a hora a que fiz este test-ride beneficiou a que houvesse um fluir agradável na condução e terão sido mais os semáforos a obrigar-me a paragens, do que propriamente outras viaturas.
Antes de chegar ao local que tinha já em ideia, deu-me ainda para formar uma opinião quanto ao painel de instrumentos e aqui…acho que a simplicidade foi levada um pouco longe demais.
As informações estão lá todas, é certo…mas o pequeno LCD que forma ¾ de lua, é demasiado simplista. Veria com mais agrado uma disposição não tão concentrada de informações – poderia ser na mesma em formato digital, até porque me parece que era perfeitamente possível haver um maior espaço de informação do que a opção de confinamento a sensivelmente 7cm de largura por 5cm de altura, complementado por uma zona de fundo preto que circunda este painel e onde se escondem informações como o símbolo do ABS, das luzes, piscas, etc...
Enquanto por lá estava junto ao Templo Romano, a ideia que tinha do modelo já começava a formar-se e era globalmente muito boa!
Apesar do piso onde circulei até ali não ser do melhor, a qualidade de construção da N-Max estava em bom plano. Ruídos parasitas não os ouvi, os painéis da carroçaria mantiveram-se bastante firmes e sem mostrar sinais de que venham a sofrer muito com o passar do tempo, algo que mostra com clareza uma montagem de bom nível e coerente com a responsabilidade de ostentar o logo do diapasão Yamaha.
O teste que tinha iniciado pouco depois das 10H, estava a começar a tornar-se mais quente e tentei estar no local apenas o tempo necessário a observar mais uns pormenores, até porque não tinha sombras onde me abrigar.
Mas ainda deu tempo para olhar para a opção da marca ao montar pneus largos, montados em jantes de 13´ e que ajudam a uma estabilidade que iria comprovar mais adiante.
Além disso, também o acesso ao espaço de carga foi analisado, fazendo-se por via do rodar da chave para o lado esquerdo no canhão e ignição, que nos permite aceder a um espaço debaixo do banco que considero ser perfeitamente aceitável para este segmento citadino. O meu modular cabe perfeitamente e ainda sobra um pequeno espaço para colocar umas luvas e uma bolsa p. ex.
O seu depósito poderia ser um pouco maior que os anunciados 6,6L, mas também não é por aí que se pode tomar como negativo, até porque a marca anuncia um consumo combinado de 2.19L.
O painel de instrumentos mostrava-me nesta altura um consumo médio de 2,9L/100Kms feitos praticamente na totalidade em circulação citadina, a velocidades moderadas e sem excessos.
É certo que aquilo que o Comp. de Bordo me apresentava não era um número propriamente agradável, mas verdade seja dita que até ali chegado tive alguns semáforos pelo caminho e as ruelas mais históricas implicavam um regime pouco constante na velocidade.
Nesta altura e cumprida que estava a etapa urbana, decido fazer então um novo reset ao parcial e levá-la para o teste de estrada…
A N-Max faz uso de um bloco SOHC com refrigeração líquida de 4 válvulas e 125cc, com uma potência divulgada de 9KW…..cerca de 12cv, com a marca orgulhosamente a informar que o modelo tem a tecnologia Blue Core, o qual e em conjugação com o sistema VVA (actuação variável das válvulas), consegue segundo a marca evitar as perdas de potência e assim melhorar o desempenho mecânico e o consumo alcançado.
Em termos práticos até funciona, mas tenho que dividir aqui as sensações vividas...
Nos arranques e recuperações desde baixa velocidade, seja por via do motor propriamente dito, da reactividade da transmissão ou funcionamento do VVA, fiquei sempre com a sensação que era mais o barulho que fazia no elevar das rotações - e que por sinal até gostei ao longo do teste - do que propriamente no ganho repentino de velocidade. Não é que este seja um ponto fraco, bem pelo contrário, mas neste caso particular do arranque e recuperações, a sua concorrente nipónica – Honda PCX - parece ser mais expedita e viva na entrega de forma imediata da potência.
Teria de fazer uma comparação lado a lado ou uma a seguir à outra, com duas unidades nas mesmas condições (como novas), mas agora que escrevo e tendo já testado estes dois modelos, a ideia que me resultou do que senti, foi a descrita.
Mas em estrada aberta o motor solta-se com facilidade e é bastante agradável circular a 90-100Km/h sem sentir que denota que está em fraqueza. Levei-a até aos 109Km/h no mostrador, em piso completamente plano, numa quase total ausência de vento e ali se manteve. Sem ser uma velocidade e regime que lhe agrade muito, ainda assim cumpriu com eficácia, revelando o chassis ao mesmo tempo uma boa estabilidade e que não causava quaisquer problemas. Antes de fazer este teste ainda pesquisei no fim de semana por alguns vídeos, mas sendo os mesmos da Tailândia e ali sendo comercializada apenas a versão 150cc, não dá para ter um termo de comparação.
De qualquer forma, acho perfeitamente possível que atinja um pouco mais se encontrar uma pequena descida, sendo que no fundo é uma velocidade que considero mais do que suficiente para o segmento em que se insere.
O comportamento dinâmico é agradável, bastante seguro e transmite a sensação de que estamos de facto a conduzir uma scooter de qualidade. Fiz um par de rotundas atirando com ela para um maior apoio lateral e o chassis e as suspensões mantiveram-na numa trajectória correcta e sem denotar que me tinha excedido na confiança.
A travagem usei-a sem cuidados especiais e além de se ter revelado sempre muito fácil de dosear, permitia também fazer uma leitura perfeita entre a pressão exercida nas manetes e a sua relação com a perda de velocidade. Não cheguei a sentir a intervenção do ABS em momento nenhum e também não o provoquei a esse ponto nesta quente manhã que fazia elevar a temperatura do asfalto.
Em termos aerodinâmicos…pois….é uma opção comum a outras marcas e a colocação de ecrãs muito curtos, fumados e quase opacos, serve unicamente para o estilo, pois não fosse o facto de estar um dia quase sem vento e o mais certo era ter levado uma tareia com a deslocação do ar, que vem inteiramente canalizada para a zona superior do tronco, braços e capacete.
Espantosamente, o consumo final do teste feito em estrada acabou por ser bem diferente do obtido em cidade, mostrando uns bem mais agradáveis 2,2L/100Kms.
Com uma circulação variada e que foi desde velocidades de 70Km/h até mais de 100Km/h, mediadas com um par de acelerações fortes para sentir o nervo ao motor, foi bem mais agradável ver aquele número no painel de instrumentos e que me leva a crer que este bloco e a tecnologia de que faz uso, “respira” melhor numa utilização extra-urbana do que se fizer uma utilização puramente citadina.
Deixo para o fim a sempre muito subjectiva apreciação estética…precisamente um ponto pelo qual começo por norma as minhas apreciações.
É algo sempre difícil de avaliar, pois temos de ter consciência que os gostos são variados o suficiente para se tomar como definitiva e inabalável a nossa opinião!!
A comparação estética com a mais recente versão da rival japonesa – Honda PCX – acabará por ditar porventura a maioria das escolhas….escolhas essas que irão provir de quem procura um veículo inserido neste segmento e com estas características, sendo que na minha opinião estas duas são suficientemente distintas da esmagadora maioria das opções existentes no mercado.
Como dizia mais atrás, é bastante difícil estar a dar uma opinião quanto ao factor estético sem estar, mesmo que de forma inadvertida, de alguma forma a transmitir aquilo que é uma opinião pessoal quanto a esse ponto em particular.
Assim e sem tecer comentários quanto àquilo que é o gosto pessoal no campo estético, deixo-vos apenas algumas fotos que tirei, juntando estes dois modelos e que para mim estão dentro do que de melhor se faz no segmento das citadinas.
Quem esteja indeciso entre ambas, deverá sempre fazer o test-ride e tirar por si as conclusões e sensações vividas, valorizando este ou aquele pormenor que no seu dia-a-dia melhor o servirá…seja consumo, comportamento, conforto, capacidade de carga, genica do motor ou simplesmente…o tal factor estético!
Uma última palavra para dizer….e porque o texto já vai muito longo, que ao entregar as chaves aconteceu uma situação caricata.
O vendedor Rui Moedas perguntava-me se tinha gostado, o que é que achava da máquina e tal…..até que até dado momento e se calhar percebendo que eu não estava ali como comprador deste modelo cujo valor era, segundo disse, €3.300 chave-na-mão, acabou por mencionar a PCX e disse que a diferença de €500 entre as duas se justificava pelo ABS.
Nisto, deixei cair um pouco da "capa” de total desconhecedor do sector e informei-o de que a diferença era menor (por metade), fazendo-o perceber logo em seguida que esse era um argumento que poderia usar futuramente para clientes que ali entrem e estejam indecisos entre ambas.
Pois digo-vos que nesse momento pareceu-me que ali larguei uma informação totalmente desconhecida e que o sempre simpático e disponível vendedor registou com um sorriso e um “Ahhh...”.
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NOTA: Obrigado ao concessionário Motévora (ao qual recomendo a visita) por me ter recebido tão bem, na pessoa do simpático, muito cordial e prestável vendedor Rui Moedas, agradecimentos que estendo igualmente à disponibilidade e abertura do concessionário Motodiana, que não colocou qualquer impedimento em que retirasse de dentro do salão de exposições uma PCX das novas, para uma sessão fotográfica com ambas.