Uma ilha cada vez mais isolada. Neste momento, apenas 17 países mantêm relações diplomáticas com Taiwan
A China tem ideias claras quando se fala de território. A ideia de uma só China sempre foi defendida e o atual presidente, Xi Jinping, não é exceção, dado que tem vindo a reunir esforços nesse sentido, sobretudo em relação a Taiwan.
As relações entre a China e Taiwan têm vindo a agudizar-se nos últimos anos e Taiwan está cada vez mais isolado. El Salvador foi o último país a romper relações com a ilha e, desde 2016, São Tomé e Príncipe, Panamá, Burkina Faso e República Dominicana tomaram a mesma decisão de cortar relações diplomáticas e inaugurar laços com Pequim.
A resolução 2758 da Assembleia-Geral da ONU foi aprovada por 178 países em 1971 e reconhece a existência de uma só China, defendendo que o governo popular da China é o único e legítimo representante de toda a China e que Taiwan é parte do território chinês.
Neste momento, só 17 países mantêm relações diplomáticas com Taipé, resistindo à China. Na Europa, o Vaticano é o único aliado de Taiwan, que se junta a seis ilhas do Pacífico (Kiribati, Ilhas Marshall, Nauru, Palau, Ilhas Salomão e Tuvalu), quatro nações das Caraíbas (Haiti, São Cristóvão e Nevis, Santa Lúcia e São Vicente e Granadina), quatro países da América Central (Belize, Guatemala, Honduras e Nicarágua) e, por fim, América do Sul (Paraguai). Ainda assim, a União Europeia e mais 47 países mantêm relações não oficiais a nível governamental com Taiwan, incluindo Portugal.
A presidente do território reivindicado pela República Popular da China, Tsai Ing-wen, abdicou de uma estratégia cooperante com o princípio de uma só China e defende uma posição direcionada para a autonomia. A campanha de Tsai Ing-wen, em 2017, intensificou as tensões com a China. Xi Jinping não encarou com bons olhos a opção da presidente de Taiwan e dedicou-se a isolar internacionalmente o território.
Apesar disso, a China não pode dar passos largos em relação à reunificação. A estratégia de Xi Jinping não passa por ataques militares, pelo menos num futuro próximo, tendo em conta que Donald Trump está a trabalhar para expandir as relações com a ilha. E atacar militarmente implicaria uma guerra aberta também com a maior potência mundial, os EUA.
Os passos são pequenos e a principal arma da China é a economia, prometendo apoios financeiros aos países que cortem relações diplomáticas com Taiwan. Por exemplo, o facto de São Tomé e Príncipe trocar Taiwan pela China permitiu à antiga colónia portuguesa participar no Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, criado em 2013 por Pequim, o principal parceiro económico do continente africano.
Recorde-se que a relação Taiwan-China é antiga e remonta à vitória comunista sobre Pequim. Em 1949, Taiwan tornou-se o refúgio do presidente Chiang Kai-shek, derrotado pelos comunistas. Cerca de dois milhões de militares e respetivas famílias instalaram-se na ilha, declarando-se como Estado independente desde essa altura.
Mudança de planos
A ilha deixou a Organização das Nações Unidas em 1971, depois da reentrada da China, um dos cinco Estados permanentes do Conselho de Segurança da ONU, e tinha apresentado em 2017 um relatório com uma estratégia definida para reintegrar a ONU. Mas, agora, Taiwan recuou na sua decisão e não vai apresentar um pedido de readmissão nas Nações Unidas e nas respetivas agências.
Segundo Hsieh Wu-chiao, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, o anúncio seria feito hoje, na 73.a Assembleia-Geral da ONU, mas Taiwan vai apenas apelar à organização para que não se esqueça dos 23,5 milhões de habitantes da ilha e que não corte a liberdade aos cidadãos, especialmente aos jornalistas, de participarem em eventos da ONU e que inclua a ilha nos Objetivos de Desen-volvimento Sustentável (ODS).
Esta decisão contrasta com os esforços que Taiwan fez ao longo de 16 anos. Entre 1991 e 2007, a ilha pediu a sua admissão na ONU e noutras agências da organização, como na Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (CMNUMC), na Organização Mundial da Saúde (OMS) e na Organização da Aviação Civil Internacional (OACI).
As regras mudaram e a ausência na participação na OMS, por exemplo, tem consequências, não só diplomáticas. Taiwan não tem acesso às informações oficiais, em tempo útil, sobre surtos ou epidemias, tendo assim de aguardar pelos canais oficiosos - além, obviamente, dos problemas comerciais, agravados pela inexistência de relações diplomáticas com quase todo o mundo.
Taiwan tenta estabelecer uma boa relação com Portugal
As relações entre Portugal e Taiwan viram o seu fim em 1975, em pleno período revolucionário. O principal motivo tem um nome familiar: Macau. Desde sempre que a China tenta usar a sua arma mais forte, a economia, para persuadir outros países a virar costas a Taiwan. Portugal tinha interesse em negociar o futuro de Macau e, para isso, era necessário não enervar o gigante asiático. O nosso país rompeu relações diplomáticas em 1949 com a China comunista e Salazar nunca reconheceu qualquer legitimidade à República Popular da China. No entanto, em 1975, o governo liderado por Vasco Gonçalves mostrou-se disponível para recomeçar as ligações diplomáticas com a China.
Hoje, Portugal mantém relações não oficiais a nível governamental com Taiwan. O Centro Económico e Cultural de Taipei (CECT) está sediado em Lisboa e uma das últimas cooperações com o nosso país foi em relação aos incêndios ocorridos no ano passado.
A Fundação Budista Tzu Chi de Taiwan enviou ajudas aos agricultores que perderam tudo nos incêndios, oferecendo um total de 300 mil euros que foram entregues a 602 famílias dos concelhos de Tondela e Vouzela.
Em 2014, o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Taiwan enviou um grupo de 16 estudantes universitários para Portugal que designou de “embaixadores da juventude”. A iniciativa teve início em 2009 e o objetivo é dar a conhecer o que Taiwan tem de melhor, desde a educação até à economia. A ilha continua a tentar uma relação com Portugal.
A nível económico, as relações entre Lisboa e Taipé prosseguem. A aproximação comercial com a ilha do Extremo-Oriente, no mar da China, começou a dar frutos em 2016, com a exportação essencialmente de material informático. A contribuição de Taiwan para a exportação de bens rondou, no ano de 2016, os 90 milhões, uma variação de 234,7% em relação ao ano anterior. Por outro lado, as trocas comerciais com a China diminuíram, pelo menos no que diz respeito às exportações portuguesas: a República Popular da China, comprou menos 1,1 milhões de euros de produtos lusos.
*Editado por Vítor Rainho
Notícia no ionline em
https://ionline.sapo.pt/626439Sendo a Sym e a Kymco empresas de Taiwan e tendo muitos de nós motas na garantia e necessidade de peças dessas marcas, e no momento em que a China está a fazer pressão para dominar o território;
Haverá algum risco de colapso destes fabricantes?
Ou mesmo que a China tome conta daquilo vai continuar tudo na mesma?