Hoje é dia Honda, e nada melhor que ir pela fresca passear com objetivo de testar 2 modelos únicos, com a expetativa de perceber alguma lógica e enquadramento comercial.
Começo pela nova e radical X-ADV , que ainda em 2016 se começou falar desta realidade de um novo conceito ainda em fase de protótipo...
... e longe vão os tempos do conceito que germinou com esta "paddock scooter"
Quem se lembra?
É certo que já existe muita informação sobre este modelo, e como tal não quero entrar em considerações técnicas pois um teste drive deve ser feito na ótica do condutor/ utilizador, e o mais isenta possível.
A X-ADV, marca um conceito que para muitos é deslumbrante e para outros é mais do mesmo, design único numa base motriz mais que conhecida.
Certo é que a tentativa desafiadora da Honda em colocar uma fasquia algo elevada num modelo com características únicas, poderá a médio prazo almejar algum destaque ou um flop que se traduzirá num problema, mas a Honda sabe bem que por vezes novos conceitos podem demorar algum tempo a serem usuais... quem não se recorda da Integra? Pois é...!!!
Se num passado tive em pensamento a ideia de que a X ADV se tratava de um produto de "nicho", após uma breve experiencia de meia hora neste test drive verifico que é uma "hipótese".
São demasiados "ses", para um novo produto tecnologicamente muito avançado, caro para o enquadramento no mercado, demasiado caro para as pretensões, mas com algo muito subtil que nos faz pensar...
Não signifique que seja algo menos bom, muito pelo contrário, mas pelo preço praticado deveria ter algo mais a oferecer ou mesmo por ser um referência inicial ( por enquanto ainda única) neste conceito, tanto mais que adopta o mesmo bicilindrico de 750cc de outros modelos da marca, cuja capacidade de resposta não sendo fulgurante é sem dúvida ávido em binário.
Ergonomia: - É preciso olhar com alguma cautela antes de treparmos para cima do banco, pois fica-se com a ideia de que ela é baixa o que não é bem assim.
Mal se recolhe o descanso lateral, sente-se logo a compressão na suspensão, e a posição dos braços é excelente... é mesmo à trail! Parece que por intuição já vimos isto em algum lado ( falo por mim...), pois tudo é simples como se quer, nunca esquecendo e volto a referir que estamos "lá em cima".
Os botões nos punhos é que podiam ser mais clássicos, buzina e piscas estão invertidos !
O banco é confortável qb, mas nada de deslumbrante, e o met in é pequeno... é algo que para o "conceito" pretendido nem deveria existir pois obriga desde logo um alargar de "ancas" em termos de quadro, quando deveria ser mais esguia.
Os 2 estrados laterais para colocar-mos os pés não são a melhor escolha, pois deveriam ser mais largos para dentro – uma bota trail com biqueira reforçada deve ser complicada. A posição dos joelhos é algo elevada com uma tendência para se afastarem e requer habituação.
Quem tiver perna curta pode ter alguma dificuldade em manobrá-la, ou mesmo parada vai requerer alguma habituação. Puxá-la para trás é mais difícil do que parece, pois exige um certo esforço... esta moto é pesada na traseira, o que afasta a mera hipótese de se tratar de um "brinquedo".
O display é muito interessante e dá ares de "road-book" pois é largo com bastante informação , mas por vezes pouco visível pois espelha em demasia a incidência do sol.
Adorei a regulação do vidro, muito fácil de ajustar... um must que deveria ser mais comum a todos os modelos da marca e não só - em estrada má, é notável a estabilidade do conjunto, sendo a a qualidade do acrílico excelente.
Chave eletrónica agregada ao HISS, pode ser prática mas faz-me um pouco de confusão. Um gadget que encarece o custo final, mas que para mim é dispensável. Nada melhor que uma chave clássica com canhão... não havia necessidade, penso eu!
Ciclistica: Distância entre eixos longa, e altura do banco elevada, tudo articulada com umas belíssimas suspensões frontais com algum curso e um mono amortecedor traseiro que é algo seco, pois sente-se alguma pancada em estrada menos boa -talvez um bocado menos de compressão no regulador e ficaria perfeito.
Para as pretensões de algum "off road", deveria até ser mais alta, não me pareceu propriamente apta para uma trialeira cujo o longo curso das suspensão é condicionante, para evitar o bater no fundo ou mesmo danificar o cárter
- Os pneus utilizados são uns clássicos e já antigos trail wing numas jantes raiadas, cuja apetência é clara para terreno misto.
Estranho a opção do tamanho escolhido da roda traseira, que me pareceu pequena... mas está bem enquadrada.
A travagem é sem dúvida muito boa, responde à mínima solicitação com bastante força, sobretudo na frente, pois a opção do duplo disco a exemplo da Africa Twin é excelente não obstante que o motor com o grande binário consegue desacelerar quase sempre sem manias, isto derivado ao fabuloso desempenho e comportamento da caixa DCT (já la vamos!) - uma segurança digna de distinção. Não senti o ABS mesmo em travagem súbita - é algo que destaco de forma positiva para eventuais "maus caminhos".
Motor: Trata-se de um bloco já conhecido, competente, mas que na minha opinião peca neste modelo por alguma falta de alma. Para o preço pedido, mais uns cavalitos e era o "sweet spot" capaz de chamar a atenção. Para um projeto tão ambicioso, faz falta algo que estabeleça o aspeto mais dinâmico capaz de mudar uma opinião e definir uma tendência. A eterna filosofia da Honda...sobriedade!
O arranque é pouco sedutor, para não dizer outra coisa, mas por vezes nota-se alguma incoerência - estranhei, mas nada que atrapalhe
Ou é calma de mais e previsível ou por vezes fica mais brusca do que é expectável... falta alguma linearidade neste automatismo, o que requer alguma habituação.
A caixa DCT é sem dúvida um dos grandes trunfo deste modelo, é uma delicia sentir o "evoluir do motor" e observar as mudanças a subirem com uma suavidade fantástica, assim como as reduções se bem que por 2 vezes senti algum "desentendimento" ao reduzir da 2ª para 1ª isto numa paragem mais forte e súbita até imobilizar totalmente.
Existem 3 modos da caixa, a D, a S, e a manual nas patilhas ( nem testei ). Para mim neste teste nem 500 m fiz em modo D, pois o modo S ( o meu preferido) é que consegue colmatar alguma "asma" e assim garantir um aspeto mais "fun" à X –ADV.
Os consumos devem estar algo alinhados com o que a Honda confere em outros modelos com o mesmo motor, mas será mesmo assim?
Veredicto: Uma moto muito dócil, com uma excelente caixa DCT muito equilibrada. O design é deslumbrante com uns acabamentos impecáveis... uma montra de qualidade.
O potencial comprador, deve perceber que este conceito pretende uma polivalência em vários campos, mas na minha opinião o uso deve ser mais urbana e estradista do que outro tipo de pretensões.
Só o sucesso e algum volume das vendas é que ditarão o futuro deste modelo, pois foge ao conceito clássico das maxis contemporâneas promovendo deste modo este conceito, mas que não sendo 100% pleno, consegue chamar alguma atenção, pelo menos o design é francamente positivo.
É algo cara para aquilo que oferece, pois atinge quase 12.000 € com documentação( salvo erro)... acho que por menos há outras escolhas mais racionais o que reverte em muitos litros de gasolina, equipamentos, etc.
NOTA: Trata-se de um opinião meramente pessoal, e como tudo, vale o que vale...
( Os meus agradecimentos ao stand J&M Motos em Pombal, que simpaticamente ainda fizeram um check up gratuito à minha Suzuki...
)