TEST-RIDE
SYM MaxSym 600i ABS Sport
Pois é…um teste à MaxSym 600.Provavelmente um dos modelos que mais tem sido comentado neste fórum e pelas mais variadas razões.
E a oportunidade de testar este modelo e esta unidade em particular, surgiu da forma mais inusitada possível…
Eu tinha pedido há sensivelmente 1 mês atrás a colaboração de um membro do fórum, proprietário deste modelo, em conseguir junto de um representante da marca uma unidade para teste, mas…tal acabou por não se propiciar e acabei por deixar passar, até porque mantinha a forte decisão em não conduzir motos ou scooters que não tivessem esse mesmo propósito, ou seja, não pretendia testar unidades pertencentes a companheiros do fórum ou amigos, mas apenas unidades de test-ride.
No entanto a vida, de forma espantosa diga-se de passagem, arranja sempre maneira de contrariar aquilo que temos em ideia…e foi o que aconteceu!
O mesmo membro do fórum que 1 mês antes eu tinha contactado, agora acabou por me solicitar alguma colaboração e opinião na análise a um outro modelo de marca diferente, tendo eu decidido estar presente no concessionário aquando do efectivar do seu test-ride.
E foi aqui, neste preciso instante, que ouvi as palavras que não consegui recusar e que também não esperava:
“Levas a minha enquanto eu testo esta”.
Ora eu encontrava-me sem capacete, sem luvas, sem casaco, sem nada senão uma roupa totalmente casual e claramente inapropriada para andar de moto.
Entro no concessionário, peço um capacete de empréstimo e pouco depois estou cá fora a avançar para aquela MaxSym 600i, que curiosamente ainda nem 2 anos tinha feitos e portanto dentro da garantia de fábrica.
Pintada naquela cor preto fosco/baço, a MaxSym apresentava-se-me de facto como um modelo imponente nas suas dimensões. Não é que não a tivesse visto já inúmeras vezes, mas de alguma forma activou-se em mim o modo “Test-Rider” e comecei a dar atenção a pormenores que habitualmente se olham sem ser com a devida atenção.
Já por diversas vezes li comparações com a Suzuki Burgman 650 no que toca ao porte e, por mais que alguém queira contrariar essa ideia, a verdade é que é difícil não constatar essa evidência. Esta SYM, que encabeça o topo de gama da marca, tem no entanto mais do que apenas presença física.
O design não é nenhuma novidade e já o conhecemos desde que primeiramente surgiu a versão com 400cc deste modelo, mas a verdade é que continua perfeitamente actual e cativante.
Enquanto maxiscooter que é e de pleno direito, este modelo reúne argumentos que a tornam altamente atractiva para um mercado como o português e…não estou a falar do “preço simpático”.
Aquele ar de scooter com capacidades de turística encontram-se em diversos pormenores, tal como no vidro frontal de generosa dimensão, ou na configuração do banco e recuo do encosto lombar, ou na posição promovida às pernas do condutor, ou na ergonomia conseguida…com as mãos a encontrar com facilidade o posicionamento do guiador.
Depois temos os pormenores muito próprios ao seu design e que, como disse atrás, continuam perfeitamente actuais e plenos de modernidade, como são os faróis que rasgam a frente da carroçaria em sentido oblíquo ascendente desde a zona central, ou a musculatura e “alargar de ombros” dada à metade inferior da carroçaria, ou os bem mais bonitos e estilizados espelhos retrovisores (face à 400), ou aquela protecção de escape onde se nota que foi tentada uma certa harmonia com o aspecto mais desportivo dado a este modelo, ou até mesmo aqueles massivos farolins traseiros que preenchem grande parte da zona traseira da MaxSym e acabam por lhe conferir de bandeja uma presença de scooter de grande porte.
Mas os pormenores onde se nota o cuidado da marca em querer elevar este seu topo de gama não se ficam por aqui, pois esta unidade Sport acrescenta-lhe ainda algumas particularidades, como as fitas vermelhas nas jantes, as costuras do banco em vermelho e…como não podia deixar de ser, novamente o uso do vermelho na colocação do
lettering MaxSym no centro do encosto lombar.
Esta é uma scooter que se pode tomar como “vaidosa” e tem no fundo algo que sustenta esse sentimento ao olhar-se para ela…é uma maxiscooter com atributos bem definidos e bem alicerçados num conjunto que não é atabalhoado ou feito sem o mínimo de reflexão, mas sim particularmente bem conseguido e capaz de seduzir qualquer maxiscootard que procure no mercado um modelo encorpado.
Quanto ao painel de instrumentos, o mesmo segue um certo classicismo, mas com um formato que busca ao mesmo tempo piscar o olho à modernidade, com dois mostradores de grandes dimensões nos extremos do painel e de informação do tipo analógica (com o uso de cromados a contorná-los), e um mostrador digital com formato circular, colocado na zona central e em posição superior, a garantir todo o tipo de informação, tal como as horas, o odómetro, os parciais e a data (coisa rara de se ver)…
A capacidade de carga é algo que novamente volta a merecer nota bastante positiva, com uma largura, comprimento e profundidade mais do que suficientes para eu a classificar com acima da média em termos de litragem que ali consegue albergar. Os técnicos da SYM conseguiram ali criar um espaço amplo e que não envergonha ninguém quando é realmente necessário fazer uso de todo o espaço disponível para transportar algo.
A parte dinâmica…O percurso foi por mim definido e no total foram realizados +60Kms de teste, com um tempo que, apesar de seco e solarengo, se mostrou particularmente ventoso em determinados momentos de estrada aberta.
Porém e apesar de não estar minimamente em condições para avançar para qualquer tipo de test-ride (relembro que estava vestido de forma casual), além de que tudo em mim dizia para me limitar a acompanhar o dono da maxiscooter que ali levava de empréstimo, o pensamento pedia-me outra coisa…
…e nem sequer 2Kms tinham passado desde o início deste teste (que recordo também…era ele quem o estava a fazer a outra máquina), decidi fazer aquilo que porventura nenhum dono gostará de ver fazer na sua máquina…
Hard on the brakes e deixa lá ver o que vales!
Circulávamos sensivelmente a 60-65Km/h numa zona de semáforos com controlo de velocidade e entendi que aquele era o local ideal para testar os travões, depois de me certificar que não tinha ninguém atrás, o que fiz sem parcimónia e aplicando força nas manetes.
E aqui neste tocante, se em termos de imobilização não lhe encontro críticas a fazer e toda aquela massa reduz de forma instantânea a velocidade graças aos dois discos na frente de 275mm, já o mesmo não posso deixar de fazer notar de forma menos positiva no que toca à diferença sentida entre o tacto duro (para mim mais agradável) da manete esquerda, por contraponto à sensação esponjosa da manete do lado direito.
É bom notar e eu não me esqueço, que a unidade em causa não era nova e existem pormenores do foro mecânico que com o tempo podem levar a certas diferenças (pequenas) no desempenho. Acrescento a isso que a regulação das aludidas manetes não estava igual, podendo também isso ajudar um pouco a explicar a estranheza da sensação obtida na travagem.
O teste prosseguia e o ritmo por mim conseguido começou a atingir o limite por volta dos 120Km/h, com a entrada de ar pelas mangas do casaco a fazer criar uma espécie de balão na zona das costas e que me impedia de ir mais além…
Mas não deixei de verificar a facilidade com que esta máquina atinge e mantém essa velocidade, numa clara demonstração que o seu carácter de
tourer não se fica apenas pelo design e prossegue também no desempenho em velocidades de A.E.
No entanto e já que inicio a abordagem ao motor, para ser rigoroso e isento na análise que sempre tenho promovido nos teste que faço e, neste caso em particular, sacudindo um pouco a possibilidade de vir a ser acusado de falar somente de umas coisas e não de outras, terei assim de abordar igualmente o facto de que esta unidade já tinha sido intervencionada em garantia.
Não é uma situação de novidade para muitos dos que estão mais ou menos por dentro do que se passa no mundo maxiscootard, nomeadamente no que toca à motorização de 600cc deste modelo, mas a verdade é que a marca resolveu em definitivo aquilo que se traduzia num consumo excessivo e inexplicável de óleo, ao ponto de se fazer notar numa simples viagem de 200Kms.
Presentemente as novas unidades já terão o problema (de concepção?) resolvido, o mesmo acontecendo a todas as outras anteriores unidades, tendo sido feita essa intervenção em garantia.
Voltando às sensações mecânicas…devo igualmente realçar as recuperações desde baixa velocidade conseguidas por este bloco e que me deram total confiança para abordar qualquer ultrapassagem sem receios de “ficar pendurado”.
A resposta ao acelerador é imediata e a velocidade com que o ponteiro da velocidade sobe, faz crer que esta não é uma máquina que se fique por meros passeios por nacionais, conseguindo sim alcançar velocidades de cruzeiro bem elevadas em A.E.
Sente-se um certo voluntarismo do motor em procurar um ritmo mais acelerado e a forma como entrega a potência, longe de ser bruta ou selvagem, acaba por seguir perfeitamente e dentro de certa medida, o conceito de
grand-tourer que se vê aplicado normalmente a motos de maior capacidade.
No entanto, sempre que por imperativos de sinalização ou tráfego eu tinha de reduzir a marcha ou até mesmo parar, não pude deixar de notar nessas alturas uma certa vibração desconfortável e que consegui situar, após algumas repetições, entre as 2.500 e as 3.300Rpm.
A causa é fácil de descortinar e o monocilíndrico de 45,5cv parece ser o responsável, ao digerir de forma insuficiente a vibração em faixas de rotação mais baixas. Felizmente, assim que se passam essas rotações mais baixas, a coisa melhora substancialmente e assim continua quanto maior for a velocidade.
No fundo, a MaxSym quase que convida a fugir das velocidades baixas, levando o condutor a aumentar o ritmo ou, caso esteja numa fila em velocidade constante, a ultrapassá-la.
Em termos de protecção aerodinâmica, fiquei agradado em toda a linha, pois se não consigo encontrar crítica de relevo na protecção oferecida ao troco e cabeça, graças ao generoso vidro frontal (regulável), da mesma forma os membros inferiores se encontram bem protegidos da deslocação do ar em todo o tempo em que me encontrei aos comandos da MaxSym.
A unidade que eu testava calçava uns belíssimos Bridgestone Battlax SC e que, ao contrário de relatos que tenho lido quanto aos bem mais duros que equipam o modelo de série (Maxxis Pro), estes inspiravam-me confiança e sentia que a máquina agarrava bem nas curvas de amplitude média e que foram negociadas no trajecto predefinido. Aliás, o “deitar nas curvas” com este modelo e que acusa na balança quase 240Kg, faz-se sem receios e temores de qualquer tipo, ao ponto de poder aqui dizer que passados uns 10Kms já me sentia como se a conhecesse há muito tempo.
Apenas quando me excedia na velocidade, sentia um certo balancear vindo da traseira, mas que em abono da verdade também se poderá facilmente justificar pelo vento sentido e pelo facto de levar uma top-case de volumetria considerável a fazer de vela.
Em linha recta e mesmo quando por um curtíssimo momento decidi enfrentar o efeito balão que o meu casaco de penas estava a fazer, atingi uma velocidade em torno dos 140-145Km/h, tendo-se a estabilidade mostrado como referencial. Em termos estruturais não senti a MaxSym a mostrar queixume por andar naquele ritmo e muito menos senti que estivesse a atingir o seu limite, pelo que o carácter de
maxi-touring não é neste modelo um mero chavão, mas sim uma realidade.
Outra nota positiva…aliás, surpreendentemente positiva, tenho de a atribuir ao conforto…
A MaxSym 600i é indubitavelmente uma maxiscooter onde o conforto é uma área que não se fica atrás de muitas outras, estando eu suficientemente à vontade para inclusivamente a comparar com a Burgman 650 (também por mim testada), fazendo-o para a colocar num plano superior a esta.
A japonesa tem uma dureza de banco que é precisamente o contrário desta e o apoio lombar recebe também elogios por amparar perfeitamente os movimentos do corpo em plena condução, sem parecer que levamos ali alguma coisa espetada no fundo das costas, bem pelo contrário.
Numa das curtas paragens e antes de retornar ao concessionário, houve no entanto algo que me chamou à atenção…
Notava-se com bastante evidência a já avançada tomada dos materiais pela oxidação.
Em um das fotos que por aqui posto e em que se vê a manete cravejada de restos mortais de insectos, dá para se ter ideia da extensão da oxidação e que atravessava de uma ponta à outra ambas as manetes e tomava também já de assalto o próprio depósito do fluído dos travões, assim como a cabeça de vários parafusos.
É algo que não me é estranho e já vi semelhantes coisas em modelos de outras marcas (Kymco, Yamaha, Honda, Suzuki, Daelim, etc…), mas não posso deixar de aproveitar para recomendar aos proprietários do modelo para que, em caso de verificarem o mesmo em período de garantia, que a accionem de imediato, pois se em menos de 2 anos está como documentam as imagens, ao fim de 4 ou 5 anos o caso ainda é pior.
Relativamente à junção dos painéis e à qualidade dos próprios plásticos, não é algo que possa apontar de forma positiva ou negativa, pois apesar de haver aqui e ali algumas tampas que efectivamente têm folgas maiores do que o desejável, ou que não seguem um encaixe uniforme ao longo de todo o comprimento, acaba por não ser algo que veja como grave, até porque não senti ruídos parasitas daí provenientes, mesmo quando andei um pouco em zona de empedrado.
Quanto ao aspecto desses mesmos plásticos e estando à vista que a unidade que eu testava receberia um banho sempre que o S. Pedro achava que era altura, não mostravam sinal de desgaste e a permanência da mesma ao sol nestes quase 2 anos de vida, não terá dado um aspecto diferente nem qualquer tipo de deformação aos mesmos.
Quanto a consumos, confesso que não olhei e nem estava preocupado em perceber quanto estava a fazer, mas acreditando naquilo que tenho lido, é perfeitamente expectável um consumo na ordem dos 4,5-5L em condução despreocupada e que poderá tender a aumentar quanto maior for a vontade e o empenho em querer explorar este bloco.
E por fim, depois de tanto escrever quanto a este teste que me deu bastante prazer em fazer, ficam duas perguntas…a 2ª das quais particularmente importante:
É um modelo que se recomendaria, num mercado tão cheio de outras boas propostas?
É um modelo que podemos comprar com a confiança de uma marca que já leva mais de 10 anos em Portugal?
E garantidamente que a resposta me sai facilmente, agora que sei que as novas unidades estão mais do que testadas e que as “questões de juventude” estão ultrapassadas…e faço-o utilizando um slogan que aqui há alguns anos pegou moda.
YES WE CAN…----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
NOTA DE AGRADECIMENTO:
Muito obrigado ao membro deste fórum que me possibilitou o teste a este modelo, o qual já há algum tempo tencionava testar e que acabou por se realizar num contexto...diferente.